quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Imediatismo #4

Quem não gosta do verão? Dias mais longos, férias, praia, muita animação na rua... Mesmo com tanta coisa boa esta época é marcada pelo medo das enchentes e deslizamentos. Vide a catástrofe que assolou a região serrana do Rio de Janeiro.

Já fui morador de Teresópolis e agora vivo na Grande São Paulo e tenho acompanhado os problemas decorrentes da chuva bem de perto, perto até demais.
As causas de tantos problemas são muito claras para mim. Crescimento desordenado da população urbana, ocupando margens de rios, quando estes não são canalizados e desaparecem embaixo da cidade, e o crescimento vertical das cidades.

Quanto mais prédios na cidade, maior a concentração de problemas. A infraestrutura não suporta a densidade demográfica. As vias não conseguem deixar fluir a grande quantidade de carros. A geração de lixo e esgoto, o consumo de água e alimentos são muito grandes. O lixo que não é recolhido vai parar nos pobres rios, agora cobertos por muito concreto, entupindo sua passagem. Quando chove a água tem de continuar fluindo mas por dentro daquele pequeno canal subterrâneo que se tornou o rio não dá, então ele resolve passar por cima das ruas. Pobre não são os rios e sim o Homem, de achar que pode vencer a natureza e confiná-la onde ele bem quiser.

E qual é a solução? Os governantes acham que a construção de piscinões resolvem o problema. Maldito imediatismo. A mesma história do barco furado que contei no texto "Imediatismo #2". Acho que esta seria uma solução emergencial mas tratam-na como definitiva. Temos que respeitar a natureza e dar espaço a ela. As margens dos rios devem se manter desocupadas. Mas o que fazer com os rios que tem suas margens ocupadas ou que foram canalizados? Infelizmente a resposta é DESOCUPAR. "Como? Você está louco?" é o que falam para mim quando digo tal coisa. Eu entendo a reação. Esta solução é dificílima mas é a única. Enquanto isto não for feito, não importa a quantidade de piscinões que sejam construídos, as enchentes ocorreram e louco será aquele que continuar morando nestes locais (a cidade inteira é afetada e não só quem mora às margens do rio), passivamente, e continuar reclamando sem fazer nada. Eu já tenho meus planos de deixar a Grande São Paulo. Pode demorar um pouco mas o farei. Prezo muito a minha sanidade e aqui, na metrópole, ela está seriamente comprometida.

Eu sempre escuto as pessoas enumerando os problemas de São Paulo, numa lista enorme, com itens que nunca acabam, mas todos estes problemas podem ser resumidos em uma única palavra, "Verticalização", esta é a causa de todos os outros.

Quando viajei à Itália eu vi várias cidades pequenas mas muito próximas, umas das outras, e ligadas por trens elétricos (trens comuns, nada de Trem-Bala). Não haviam tantos prédios. Os rios tinham espaço suficiente para fluir, com lindos caminhos de terra batida às margens, para a circulação de pedrestes e ciclistas, sob muitas árvores. Esta é a solução que enxergo para os problemas de trânsito, lixo, chuvas, etc, dos grandes centros. A concentração de muita gente em um lugar só traz muitos problemas. Temos que aprender a viver diferente, em grupos de pequenos grupos. É difícil, eu sei, mas precisamos mudar senão continuaremos tendo os mesmos resultados (leia-se, problemas).

Converse com uma pessoa de um grande centro e com outra de uma cidade pequena. Você perceberá um grande distúrbio psicológico na primeira, resultado do estresse causado pelo trânsito, enchentes, etc. É assim que você quer viver? Eu não!