domingo, 4 de outubro de 2009

Lembranças sobre duas rodas - Parte 2

Taubaté - Templo Hare Crishna (Fazenda Nova Gokula)




Visualizar Taubaté - Templo Hare Chrisna em um mapa maior


Este foi um passeio que mais parecia um pesadelo, resultado da inexperiência dos participantes: eu e meu primo César.

Éramos adolescentes quando começamos a nos aventurar em passeios de longa distância, a maioria por rodovias de fluxo muito baixo, quase inexistente. A grande maioria deles era nas proximidades de Taubaté - SP, pela facilidade de acesso que tínhamos. As bicicletas eram bem simples e baratas mas, felizmente, nunca nos deixou na mão.

Templo Hare Chrisna - Fazenda Nova Gokula (retirado do site Panoramio)

Interior do templo (retirado do site Panoramio)

Acordamos muito cedo naquele dia. O objetivo era ir até o templo Hare Chrisna na fazenda Nova Gokula que indicaram para nós. Tomamos nosso café da manhã, preparamos os lanches, pegamos um pouco de dinheiro e colocamos tudo nas mochilas. Não usávamos o tradicional uniforme de ciclismo mas sim bermudas, camisetas e tênis comuns. Nem sequer capacete usávamos naquela época, o que ilustra bem o nosso amadorismo.

Não tínhamos muitas informações sobre o percurso e contávamos apenas com a coragem e o espírito de aventura, inerente dos adolescentes.

Tudo pronto, partimos com o nascer do sol, que estava espetacular naquele dia, prometendo ser inesquecível ... e foi.

Estação de Trem Campos do Jordão (retirado do site Panoramio)

Fomos até Pindamonhangaba pela Rodovia Amador Bueno da Veiga (SP 62). Em "Pinda", fomos até a estação do trem que vai para Campos do Jordão. Seguimos os trilhos do trem pela Rua Martin Cabral e depois viramos na Av. Dr. João Ribeiro.

Enquanto passávamos por uma fábrica da Coca-Cola, que hoje está desativada, fiz uma descoberta nada boa: "esquecemos as caramanholas no congelador". Nós colocamos as caramanholas no congelador, na noite do dia anterior, para manter a água gelada por um tempo maior e acabamos esquecendo de pegá-las pela manhã. Não valia a pena voltar e decidimos comprar água no caminho.

Rio Paraíba do Sul com a Serra da Mantiqueira ao fundo (retirado do site Panoramio)

Logo à frente cruzamos o rio Paraíba e então chegamos à Rodovia Dr. Caio Gomes Figueiredo (SP-132). Pedalamos mais uns 2 km e encontramos uma bifurcação. "E agora?", não lembrávamos direito o nome do local onde íamos mas vimos uma placa indicando Ribeirão Grande para a direita. Sabíamos que se continuássemos na rodovia acabaríamos chegando em Piracuama, então viramos à direita, na estrada¹ Jesus Antônio de Miranda, sem muita certeza de estarmos no caminho certo. Pra falar a verdade a dúvida foi constante a partir deste ponto.

O dia já estava bem quente, com o sol muito forte. Quase não haviam nuvens no céu. O suor encharcava toda a roupa. Dava para ver o calor emanando do asfalto. Parecia até uma estrada do Vale da Morte, nos Estados Unidos, como nos filmes. Era um dia especialmente quente.

Em um certo momento paramos em uma casa de doces e compramos duas barrinhas de doce de leite. Na verdade o doce era só uma desculpa para filar a água do estabelecimento e descansar um pouco sob a sombra da grande varanda que lá tinha. Mais a frente paramos num bar para comprar água.

Passamos por um trecho com muitos Eucaliptos, que nos ajudaram a enfrentar o calor, com suas sombras.

Percorremos um pouco mais de 20 km desde "Pinda" e já estávamos morrendo de fome. O asfalto terminava aqui. O caminho continuava em frente mas resolvemos seguir um pouco por uma estrada à esquerda, até um bar. Abrimos a mochila e pegamos nossos lanches. Foi engraçada a cara que fizemos, um para o outro, quando vimos os lanches. Eles estavam finos como um pastel, compactados pelas outras coisas da mochila. Apelidamos o lanche de "pãoqueca".

Rio ao lado do bar, final do asfalto (retirado do site Panoramio)

Aproveitamos o rio que havia ao lado do bar para nos refrescarmos um pouco.

Após um ótimo repouso seguimos pela estrada que levava ao templo. Só tinha um problema ... não sabíamos o caminho e neste ponto já não tínhamos o asfalto para nos guiar. Começou a surgir uma bifurcação atrás da outra. Continuamos sem saber se estávamos no caminho certo, até que cruzamos o rio. A estrada se perdia entre o grande número de árvores e já desconfiávamos ter pego o caminho errado.

"No stress, sô aperreio", já sem dinheiro, depois de 40 km pedalados, decidimos voltar, mas não antes de aproveitar vários "single tracks" que haviam no local. Depois viemos a descobrir que o caminho era aquele mesmo e que quase chegamos lá, faltando apenas alguns metros.

O retorno até "Pinda" não teve surpresas, a não ser o cansaço que começava a nos dominar. Não estávamos habituados a longos passeios.

Já quase saíndo de "Pinda", em direção à Taubaté, encontramos uma bifurcação e uma placa de sinalização. Ela apontava para a direita, para Tremembé. Cansados, com nuvens negras no céu ameaçando uma enorme tempestade, seguimos rumo a Tremembé, achando que este seria o menor caminho de volta. Só tenho uma coisa a dizer: "Duas cabeças de jerico!". Com isso foram acrescentados 3 km ao nosso percurso.

Logo que entramos na rodovia, rumo à Tremembé, a tempestade começou. Ventava muito, e é claro, contra nós. As gotas de chuva eram enormes e chegavam a doer na pele. Não dava para enchergar nada à frente. Só desejávamos chegar em casa antes de uma possível chuva de graniso.

"Dinheiro, dinheiro ...", comecei a gritar, quando encontrei alguns reais perdidos a muito tempo, num dos bolsos da bermuda.

Com muito frio, cansaço e fome, chegamos à Tremembé. Paramos no primeiro bar que achamos e gastamos aquele dinheiro achado. Conseguímos comprar duas coxinhas. Irradiantes de felicidade por poder preencher um pouco daquele enorme vazio que tínhamos no estômago, pegamos o pote de catchup e apontamos para a coxinha: "peraí, este catchup está com uma consistência estranha". Pimenta, tinha acabado de encher minha coxinha com pimenta. Sem mais nenhum dinheiro para comprar outra coxinha, o jeito foi comer aquela mesmo. Pelo menos o frio se foi, ou a sensação dele.

Um detalhe interessante é que dentro do bar tinha uma cascata. Não era uma cascata artificial e sim um vazamento torrencial no telhado furado. Bem, estávamos ambos molhados mesmo ...

De Tremembé até Taubaté o percurso foi completado com muita cantoria, em voz alta, para espantar o cansaço.

"Home, sweet home", chegamos, no final da tarde. Nós estávamos imundos e sem energia pra nada, nem para um banho. A solução foi enfiar uma colher de açúcar na boca e dormir no chão duro do quarto. Sem travesseiro, sem cobertor, sem colchão e sem noção ... foi um dos melhores sonos que tive na minha vida.

Se fosse resumir este "passeio" em poucas palavras, eu diria: Calor, sede, fome, 83 km, cansaço, frio e muita diversão. Um pouco contraditório mas a mais pura verdade.

Mais informações sobre o local

A rodovia Jesus Antônio de Miranda, além de levar à várias atrações do Núcleo Turístico do Ribeirão Grande, como trilhas, riachos e cachoeiras ao pé da Serra da Mantiqueira, também é um roteiro gastronômico com comida caseira, peixes, massas, doces caseiros, etc. (fonte: Portalpinda). Estão previstas obras de recuperação na rodovia (fonte: Agoravale, 05/10/2009).

No site Pindavale há bastante informação sobre as várias atrações turísticas da região.

Taubaté é a cidade natal de José Bento Renato Monteiro Lobato. Na cidade, é possível visitar o Museu Monteiro Lobato.

A fazenda Nova Gokula tem um serviço de camping e hospedagem, mas atenção ao fato do lugar ter um clima de retiro espiritual. Se sua intenção é fazer bagunça com os amigos, não vá!

Notas

1) "Estrada" é uma designação dada à via não pavimentada, conforme o Código de Trânsito Brasileiro. Portanto a designação correta para uma via pavimentada é "rodovia".

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Novo padrão de tomadas e plugues


Alguns meses atrás eu estava precisando de uma extensão elétrica para ligar os vários equipamentos de meu aquário. Eu precisava de uma extensão com tomada para o plugue de padrão americano, com 2 pinos chatos e um redondo (muito comum nos computadores). Para minha surpresa só encontrei extensões com um novo padrão de tomada que nem conhecia. Fui em outro supermercado e só encontrei o novo padrão de tomada. Procurei nas lojas online que costumo comprar e foi a mesma decepção. Resolvi digitar "Nova tomada" no google e descobri o que estava acontecendo. O Conmetro (Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) publicou a resolução nº 11, de 20 de dezembro de 2006, que altera o padrão de tomadas e plugues usados no país, conforme norma NBR14136:2002 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

A minha primeira reação foi de indignação. Com tantos padrões diferentes pelo Mundo, criar mais um só pioraria a situação. Comecei a imaginar a perturbação que isto causaria na minha vida, afinal um geek como eu não pode ficar sem uma tomada. O que eu faria com os vários equipamentos eletro-eletrônicos que tenho? O que faria com os outros equipamentos que compraria no exterior?

Lembrei de uma amiga que é comissária de bordo de voos internacionais, que depende de um adaptador universal para carregar o celular dela, em qualquer tomada. Coitada, vai ficar sem comunicação com o Mundo pois não vai ter onde carregar seu celular. Ainda não existe um adaptador para este novo tipo de tomada.

Outros pensamentos começaram a me deixar revoltado. Comecei a buscar um motivo para tal alteração e só encontrei um, no momento. Tal mudança causaria um aumento de consumo de tomadas e plugues, ou seja, promoveria o crescimento econômico do setor.

Passada a irritação inicial, comecei a pesquisar mais sobre o assunto. Busquei a norma ABNT que trata do assunto e verifiquei que ela foi baseada na primeira edição da norma internacional 60906-1, da IEC (International Electrotechnical Commission), de 1986. Esta norma da IEC foi criada para tentar unificar os diversos padrões existentes pelo Mundo. Já existe uma segunda edição da norma internacional, publicada este ano, 2009, mas sem nenhuma alteração significante para nós, brasileiros. Seria o fim dos adaptadores e incompatibilidades. Infelizmente a norma não tinha sido adotada por nenhum país, até agora. Incrivelmente o Brasil foi o primeiro país a seguir a norma, com algumas adaptações. O importante é que a norma brasileira mantém uma compatibilidade física com a norma internacional, permitindo que plugues brasileiros se encaixem em qualquer tomada de países que adote a IEC, e vice-versa. Uma exceção é a tomada brasileira de 10A, que tem os orifícios menores que os plugues da IEC, mas para manter a compatibilidade basta instalar tomadas brasileiras de 20A.

Bem, o problema de incompatibilidade continua pois o Brasil ainda é o único país a adotar este padrão de plugue e tomada, mas achei a atitude louvável. É o primeiro passo para acabarmos com este caos que existe hoje no Mundo.

O outro motivo, mais louvável ainda, é que o novo padrão tem uma proteção maior contra choques elétricos acidentais. Existe um outro dispositivo, o DR, que pode perfeitamente proteger o usuário contra choques elétricos (sem precisar mudar um plugue ou tomada) mas o uso deste tipo de dispositivo não está bem difundido entre os brasileiros. Prometo escrever sobre o DR em texto futuro.

No sítio do INMETRO na internet existe uma lista das Dúvidas Frequentes. Achei bom mencioná-lo aqui pois tem explicações sobre as proteções incluídas no novo padrão. Só devo alertar que, diferente do que o INMETRO informa, existe sim um padrão internacional, só que o Brasil é o primeiro país a adotá-lo, como expliquei anteriormente.

Além do INMETRO, encontrei no sítio da Prime, empresa do setor de eletricidade, um documento com explicação mais completa sobre o novo padrão.

Deixo aqui meu pedido de desculpas ao Conmetro, por ter sido preconceituoso diante de minha ignorância sobre o assunto, agora sanada! Parabéns, Conmetro, pela iniciativa!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Lembranças sobre suas rodas - Parte 1

Ilhabela - Estrada de Castelhanos

Como tudo começou

Tudo começou em um encontro de ciclistas que ocorreu em Santos (município do Estado de São Paulo), em fevereiro de 2001. O dia estava perfeito, assim como a conversa. Falávamos sobre as façanhas do dia anterior, a descida pela estrada velha de Santos, da qual não participei pois estava fazendo uma trilha em Campos do Jordão. Não me lembro muito bem como foi mas em um certo momento o assunto já era outro – Ilhabela. Foi então que o João teve a ideia de atravessar Ilhabela de bicicleta, pela estrada de Castelhanos. Em pouco tempo, Eu e a Soraya ratificamos a ideia do João e decidimos fazer a travessia já no final de semana seguinte.

Um pouco sobre Ilhabela

Vista do canal entre São Sebastião e a Ilha de São Sebastião (à direita), retirada do site Kitesurf Mania

Ilhabela é o único município-arquipélago marinho do Brasil e sua ilha principal, Ilha de São Sebastião, possui um relevo jovem, bem acidentado, com pontos culminantes de até 1379 metros. O arquipélago tem uma área superior à 340 km². A vegetação predominante é a Mata Atlântica e ainda está bem preservada. São 36 km de praias, sendo algumas acessíveis apenas por mar. As cachoeiras são abundantes. Suas características e belezas naturais são um convite para a prática de esportes náuticos ou de aventura. A região ainda reserva um bom número de histórias, mistérios e lendas (envolvendo piratas, escravos, naufrágios, almas penadas e discos voadores). Entre os naufrágios ocorridos em Ilhabela está o maior da América do Sul – O transatlântico espanhol Príncipe de Astúrias naufragou em março de 1916 tirando a vida de 477 pessoas.

Para o leitor que quiser se aprofundar sobre as histórias do arquipélago, ou sobre os naufrágios, pode encontrar maiores informações nos livros "Ilhabela - Seus Enigmas" de Jeannis Michael Platon e "Príncipe de Astúrias" de José Carlos Silvares e Luiz Felipe Heide Aranha Moura.

A viagem até São Sebastião

Eu e Soraya partimos bem cedo de Campinas. De carro, com as bicicletas amarradas no suporte e equipamento de camping no porta-malas, seguimos pela rodovia D. Pedro I. Até Jacareí foram 135 km, incluindo um pedágio no município de Itatiba. Os 23 km seguintes foram pela rodovia Carvalho Pinto, passando por mais um pedágio. Até este ponto o caminho foi tranquilo devido as ótimas condições das duas rodovias, fazendo valer os pedágios pagos. Continuamos a viagem, agora acompanhados pelo carro do João, pela rodovia dos Tamoios, estrada com poucos pontos de ultrapassagem e de mão-dupla. Não há nenhum pedágio nos 75 km até Caraguatatuba entretanto as condições da via não eram tão boas quanto as encontradas nas rodovias anteriores. Os últimos 25 km seguimos pela Rio-Santos, até São Sebastião, onde faríamos a travessia de balsa, até Ilhabela.


Visualizar Campinas - São Sebastião em um mapa maior

Vencendo o medo

Meu primeiro desafio do passeio foi antes mesmo de começar a trilha, já na travessia da balsa, pois tenho fobia de grandes concentrações de água. Os minutos de espera pela balsa foram tensos. Eu procurava me acalmar mas experimentava um sentimento misto, de ansiedade e medo. Iniciado o embarque, respirei fundo e conduzi o carro até o local indicado para o estacionamento. Procurei me distrair, conversando com os amigos, o que me ajudou muito.

Preparativos


Visualizar Estrada de Castelhanos em um mapa maior

Chegamos em Ilha Bela e nos dirigimos para o camping. Já no camping, começamos os preparativos para a trilha: equipamentos de proteção, protetor solar, lanche, água potável, anti-histamínico ... é, além do medo de água ainda enfrentaria um dos meus maiores inimigos, o borrachudo. Quando criança já precisei ir ao hospital devido a uma reação alérgica à picada deste inseto, abundante em algumas regiões do litoral paulista.

Força, amigo!

Com as bicicletas à postos, partimos em direção à Castelhanos, praia do lado leste da ilha. A estrada é de terra e bem arborizada, o que impedia os raios solares de alcançar o solo, deixando-o bem úmido. O primeiro trecho é uma subida contínua, chegando a pouco mais de 700m acima do nível do mar. Na portaria do parque estadual de Ilhabela, ainda no começo da estrada, fizemos uma pausa para tirarmos algumas fotos, fazermos um pouco mais de alongamentos e abastecermos as caramanholas. O trânsito de veículos motorizados na estrada é bem pequeno. Não é qualquer carro ou motorista que consegue transpor todos os obstáculos encontrados ao longo do percurso. A subida foi relativamente tranquila, sem contratempos, afinal, todos ainda estavam com muita energia.

Hora do Downhill

Superado o trecho de aclive, chegou a hora de transferir as forças dos membros inferiores para os membros superiores. O começo da descida foi bem divertido, com muita velocidade. O ar soprava nossas faces com força, mesmo não havendo ventos. As curvas e barrancos começaram a exigir um controle maior da velocidade das bicicletas. Neste momento o João começou a ficar para trás. Fizemos algumas pausas para reunir o trio e continuamos a descer. A grande quantidade de lama, buracos, pedras, e o receio de veículos no sentido contrário começaram a nos exigir uma atenção maior ainda. Logo as mãos, punhos, braços, ombros e pescoço começaram a doer, devido ao esforço contínuo de acionamento dos freios e à tensão causada pela dificuldade da trilha. A única coisa que eu desejava no momento era um freio a disco.

Apesar de desgastante, estávamos curtindo bastante a descida, quando de repente surge um grito do nada: "SAI DA FREEEEENTE!". Com um pedido tão educado, retirei-me para o canto da estrada, e então passou um vulto, vestido de ciclista, um Downhiller. Passado o susto, continuamos a descida por locais onde até um jipe tinha dificuldades de passar. Um pouco mais à frente cruzamos com uma pick-up. Dentro dela estavam: o motorista e o downhiller que tinha passado por nós. O downhiller estava com o equipamento de proteção completo, de dar inveja a qualquer cavaleiro medieval. Na caçamba da camihonete ... uma bela máquina de duas rodas. Continuamos nossa descida e não demorou muito para o silêncio ser quebrado novamente: " A FREEEEENTE!". Lá se vai o downhiller descida a baixo, mais uma vez.

Finalmente chegamos ao final da descida. Nossa próxima tarefa: atravessar um rio raso, de água cristalina e gelada, e com fundo preenchido de pedras lisas. Na outra margem estava um grupo de cavaleiros. A tentação de atravessar o rio pedalando foi tão grande que não resistimos. Pegamos um bom embalo e entramos no rio. No meio da travessia os pedais estavam submersos e pedalar nesta situação exigia um esforço muito grande. Não tinha como continuar, então a outra metade do rio foi transposta com a bicicleta no ombro. Pelo menos ninguém caiu. Depois de conversar um pouco com os cavaleiros, seguimos o passeio. Foi então que encontramos uma poça de água da chuva, enorme. "Desviar pra quê?", pensamos. Passamos por dentro dela em alta velocidade, indo parar lama até dentro da orelha.


Enfim, Castelhanos

Imagem da baía de Castelhanos, retirada do site Kitesurf Mania

Chegamos! A paisagem era fantástica e nos fez esquecer que ainda teríamos que enfrentar o esforço do retorno. Um quiosque de sapê, no meio da praia, nos forneceu abrigo contra o sol. Novamente fizemos uma pausa para fotos. É claro que não poderia faltar um bom banho no mar, até porque precisávamos tirar todo aquele barro do corpo. Ainda vislumbrados pela beleza da região, fomos recebidos para um banquete, pelo menos para os borrachudos. Eles estavam se deliciando com nosso sangue e nos lembravam que estava na hora de partir. Infelizmente não tivemos tempo de explorar toda a praia, que merecia pelo menos um dia inteiro.

Subida a pé

Estávamos ainda no início do retorno quando escorreguei com o pneu da frente em uma pedra. Não consegui desencaixar a sapatilha do pedal e levei um tombo. Ainda no chão, tentava desencaixar a sapatilha mas não conseguia. Eu usava um modelo de pedal de encaixe da Shimano que era muito fechado e acumulava muita lama. O resultado não podia ser outro, tinha tanta lama acumulada que o sistema de desencaixe travou. Só consegui me levantar após ter recebido a ajuda da Soraya para desencaixar a sapatilha. A queda me deixou com a coxa um pouco dolorida, mas só.

Pouco tempo depois foi a vez da Soraya. Após o pneu traseiro girar em falso sobre uma pedra lisa, a bicicleta escorregou de lado, levando a Soraya de encontro ao chão. A queda foi severa com ela e deixou várias escoriações na perna e muitas pedrinhas cravadas no joelho. Com o joelho doendo muito, ela não conseguia mais pedalar. Tivemos que fazer a subida a pé. Nesse momento já não tínhamos mais contato visual com o João pois ele tinha ido na frente. Foram pouco mais de 10 km de subida a pé e empurrando a bicicleta, em terreno enlameado e com muita pedra. Tivemos que parar por vários momentos por causa das dores que a Soraya estava sentindo. O odômetro da bicicleta progredia muito devagar e o desânimo, muito depressa. A situação ainda estava piorando, estava esfriando, a fome começava a ficar intensa e o cansaço não nos dava trégua. Nosso objetivo principal era terminar a subida pois poderíamos fazer a descida montados na bicicleta, visto que a Soraya não precisaria pedalar. Muito tempo depois conseguimos alcançar o final da subida e re-encontrar o João. A conclusão da subida foi muito comemorada, precipitadamente.

Descida a pé

Explicado todos os acontecimentos para o João e aliviados por ter conseguido alcançar o topo da trilha, apressamo-nos a iniciar a descida. E então uma nova descoberta exauriu por completo nossos ânimos. Meus freios não funcionavam mais. As sapatas tinham sido integralmente consumidas na descida anterior – O desgaste havia sido acelerado pela grande quantidade de lama. Sem freios, só tinha uma coisa a fazer, descer a pé. Depois de ter feito mais de 10 km de subida a pé e empurrando a bicicleta eu não conseguia acreditar que teria que fazer mais 10 km de descida, também a pé. E o pior de tudo é que já estava escurecendo. Não tínhamos levado farol ou lanterna pois saímos muito cedo e prevíamos um retorno antes do entardecer. Minha cabeça era inundada por um único pensamento: "O que estou fazendo aqui?".

Antes que o pânico tomasse conta de nós tivemos que pensar em um plano emergencial. Decidimos que o João seguiria de bicicleta, sozinho, para buscar o carro e nos resgatar. Eu desceria a pé e a Soraya me acompanharia de bicicleta. Plano em ação, logo a escuridão tomou conta de tudo e não enxergávamos além do próprio passo. Estávamos sozinhos, em uma ilha, numa região erma, cercados de Mata Atlântica por todos os lados. Apreensivos, os sentidos começaram a funcionar melhor, ou pior. Começamos a enxergar e escutar coisas estranhas. Num lugar com tantos mistérios começamos a acreditar que tudo era possível. Tornou-se difícil identificar o que era real e o que era imaginário. A passos largos, tropeçando no escuro e sem saber o que nos rodeava, chegamos à portaria do parque. Vimos faróis em nossa direção mas ainda estávamos apreensivos. Não tínhamos mais forças para nenhuma nova surpresa. Em dúvida se aquilo seria nosso resgate ou nossa perdição resolvemos arriscar e nos aproximamos do veículo. Ainda um pouco incrédulos e eufóricos reconhecemos o João, já com o carro para nos resgatar.

Basta por hoje

Enfim ... o camping. Preparamos um macarrão semipronto, com o sabor incrementado absurdamente pela fome que sentíamos. O banho de água morna em box de concreto parecia uma hidromassagem de um hotel 5 estrelas. O chão da barraca – frio, duro, irregular – não nos impediu de ter uma noite sensacional. Nunca tive tanto prazer em saciar necessidades tão básicas.

Depois de tanto sofrimento, uma pessoa normal ficaria um bom tempo no conforto da civilização, mas não foi o nosso caso. Uma semana depois já estávamos planejando a aventura seguinte, mas não antes de comprar um bom freio com sapatas reserva para ambiente molhado e de trocar meu pedal Shimano por um Time.

Até a próxima!

Lembranças sobre suas rodas - Notas

Caros leitores, pretendo escrever uma série de textos sobre minhas várias aventuras de bicicleta. Minha memória não ajuda muito e nem sempre as lembranças que tenho correspondem exatamente com o que aconteceu. Dei-me a liberdade de preencher algumas lacunas. Os nomes dos personagens não necessariamente são reais. Chamarei a série de "Lembranças sobre duas rodas". O primeiro texto é sobre uma das mais notórias de minhas aventuras, e não poderia ser em outro lugar senão Ilhabela. Este é meu primeiro texto narrativo e estou pesquisando e aprendendo como fazê-lo de forma correta. Espero que gostem.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Nova lei antifumo

Tenho visto várias notícias nos jornais sobre como as pessoas desrespeitam a lei antifumo. Os comerciantes ainda não perceberam que a maioria é de não fumantes.

Eu tinha deixado de frequentar o Fran's Café por causa dos fumantes mas voltei, com a nova lei. Se todos não fumantes simplesmente deixassem de frequentar estabelecimentos onde não é cumprida a nova lei, os donos iriam sentir no bolso e então intensificariam as medidas contra os fumantes que desafiam a lei.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Jornada de Trabalho de 40h

A redução da Jornada de Trabalho para 40h semanais é uma reivindicação antiga das Centrais Sindicais para elevar a oferta de emprego.

Eu acho muito utópico acreditar nisto. Com os encargos trabalhistas atuais, o empregador vai preferir colocar seus funcionários para fazerem horas-extras, para compensar a redução, à contratar mais empregados.

Os sindicatos já limitam o número de horas-extras em vão pois vejo muitos empregadores burlarem estas regras. Já vi funcionário trabalhar com problemas de saúde, nas suas férias, etc. Em época de crise então ... os empregadores aproveitam o medo que o funcionário tem, de perder o emprego, para fazerem o que querem.

Eu cheguei a pensar que se fosse aumentado o custo das horas-extras (pagando 50% em vez de 25%) os empregadores prefeririam empregar mais funcionários, mas eles criaram o banco de horas. Nem os 25% o empregado ganha mais.

Os sindicalistas não conseguem controlar a criatividade dos empregadores, ou não querem.

Imediatismo #3

Você já deve ter ouvido falar da nova lei que limita a circulação de ônibus fretados na cidade de São Paulo.

No curto prazo a circulação de veículos pequenos sofrerá uma melhoria. Logo os usuários dos fretados perceberão que o trânsito flui melhor e optarão por tirar seus carros da garagem em vez de usar o sistema de transporte público. Em pouco tempo a melhoria obtida pela lei será anulada.

Em notícia veiculada no jornal "Folha de São Paulo" de 30/07/2009, a procura pelo serviço de fretados retraiu 50%. O que fizeram estes usuários? Provavelmente já tiraram o carro da garagem.

É comum o trabalhador dos grandes centros urbanos gastarem 3 horas no translado entre suas residências e o local de trabalho. Fazendo um cálculo rápido, isto equivale a quase 10% da sua vida. É natural que as pessoas procurem um meio de aproveitar este tempo gasto e a maioria o utiliza para dormir ou estudar. Eu mesmo uso como um complemento da minha noite de sono, já que durmo só 6h por noite. Não acredito que estas pessoas deixarão o conforto de sua poltrona exclusiva para VIAJAR em sistemas saturados, em pé, e fazendo baldeações!

Porque este tipo de medida é adotada? Por causa do imediatismo, afinal, os resultados tem que aparecer antes das próximas eleições!

Imediatismo #2

Trabalho para uma empresa que leva muito a sério a segurança dos empregados. Qualquer acidente é investigado e propostas de melhorias são obrigatórias.

A ocorrência de um acidente envolvendo um empregado que se deslocava ao trabalho com sua bicicleta resultou na extinção do bicicletário. Era óbvia tal solução pois era imediata e ainda diminuiria o custo com a manutenção do bicicletário.

Para mim, neste caso, óbvio é sinônimo de preguiça de usar o cérebro!

Imagine a situação: Você e um amigo estão pescando em um barco, no meio de um lago. O barco fura! O que é melhor? Usar um balde para esgotar a água do barco, sendo que sempre haverá mais água para retirar ou, levar o barco à margem do lago e consertar o furo? Se o amigo fosse um "mala" eu deixaria ele ocupado tirando a água do barco mas em qualquer outro caso eu consertaria o furo. Esta solução é mais difícil e demorada mas precisa ser realizada uma única vez. Uma vez realizada poderei voltar a pescar.

Voltando ao caso da empresa onde trabalho, nela existe um programa de incentivo à prática de exercício físico e uma das orientações é que cada unidade disponibilize um espaço para a guarda de bicicletas. Curioso não? E no mínimo contraditório.

E quando algum funcionário sofrer um acidente de moto? Vai demolir o estacionamento de motos? E quando for um acidente de carro?

Acho que a empresa onde trabalho tem uma prestadora de serviços de demolição muito chata e precisa mantê-la ocupada.

Imediatismo #1

1. Sistema de atuar dispensando mediações e rodeios.
2. Filosofia e prática daqueles que cuidam absorventemente do que dá vantagem imediata.
Aurélio


... o Imediato como valor que permeia vários aspectos da cultura, ...


... um dos maiores problemas encontrados nos negócios atualmente: a crise do imediatismo, ou seja, do pensamento em curto prazo, que perverte os objetivos dos negócios e distorce os incentivos.


... a tendência ao imediatismo pode comprometer nosso sucesso futuro.


Algumas citações para situar o leitor dentro do assunto dos próximos textos.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Imposto de Importação - Isenção

Aqui vão algumas dicas para importar produtos com isenção do Imposto de Importação:


  • A soma do valor do produto, frete e seguro, deve ser inferior à US$50,00 (Cinquenta dólares dos Estados Unidos da América).
  • O produto deve entrar no país através de Remessa Postal Internacional.
  • Tanto o remetente quanto o destinatário devem ser Pessoas Físicas.
  • Não utilize Remessas Expressas.
    • Com exceção de Livros, Revistas e Periódicos
  • Não compre bebidas alcoólicas, fumo ou produtos de tabacaria.
  • Compre quantidades pequenas, suficiente para o seu consumo, não caracterizando importação para revenda.
Dica: Peça para o vendedor declarar o valor correto do produto. Declarações falsas te obrigarão a pagar o imposto de importação e uma multa de 100%.

Para se certificar do exposto acima recomendo verificar as referências que listo no final do texto, principalmente a [4] e [5], pois são mais claras que as legislações. Lembre-se que as leis estão sempre mudando. É bom verificar se as leis não foram alteradas, substituídas ou revogadas. Você pode fazer uma consulta aqui.

Para ter certeza das interpretações que fiz sobre as referências que listo eu ainda fiz uma consulta no “Fale conosco – Assunto: Encomendas e Remessas Expressas” do site da Receita Federal.

Pergunta:

Prezada(o). No folheto informativo "Remessa Postal - Importação" diz que os produtos estrangeiros adquiridos por meio da Internet, catálogos ou outra forma qualquer pagam Imposto de Importação. No caso de uma compra em um site de leilão no exterior (o eBay por exemplo) onde o vendedor é uma Pessoa FÍSICA, a remessa postal será de Pessoa Física para Pessoa Física e conforme o mesmo folheto informativo esta mercadoria está isenta do Imposto, se tiver valor inferior à US$50,00 (com frete e seguro). Gostaria que me confirmassem se são isentas do Imposto de Importação as compras em sites de leilões no exterior, inferiores à US$50,00, quando o vendedor é uma Pessoa FÍSICA. Grato.

Resposta:

Prezado(a) Senhor(a),
Agradecemos a sua mensagem.
Remessas no valor total de até US$ 50.00 (cinqüenta dólares americanos) estão isentas dos impostos, desde que sejam transportadas pelo serviço postal, e que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas. O valor tributário é calculado sobre o valor dos bens constante da fatura comercial, acrescido dos custos de transporte e do seguro relativo ao transporte, se não tiverem sido incluídos no preço da mercadoria. Quando não houver fatura comercial o preço será o declarado, desde que compatível com os preços praticados no mercado em relação a bens similares.
Atenciosamente,
Serviço de Fale Conosco
Secretaria da Receita Federal do Brasil”


Restando dúvidas o melhor caminho é consultar a Receita Federal, como fiz.

Uma observação importante. Eu já comprei muitas vezes no eBay. A maioria das vezes em Hong Kong. Duas vezes a Receita enviou a cobrança do Imposto. Paguei o imposto sem reclamar. A única coisa que fiz foi entrar com uma revisão do valor, pois a mercadoria veio sem nota e a Receita cobrou o que achou que a mercadoria valia (um valor muito maior). Bastou enviar o comprovante do Paypal e a fatura do Cartão de Crédito para a revisão ser aceita. Na época não conhecia tudo que escrevi aqui e meu erro pode ter sido comprar uma quantidade grande (empolgação de iniciante) e o vendedor também declarou um valor bem menor do que o valor real.

Não perca os próximos textos sobre Imposto de Importação.

Referências:

[1] Portaria nº 156 de 24/06/1999 do Ministério da Fazenda

[2] Artigo 34 da Instrução Normativa nº 560 de 19/08/2005 da Receita Federal do Brasil

[3] Instrução Normativa nº 794 de 19/12/2007 da Secretaria da Receita Federal do Brasil

[4] Site dos Correios – Serviço Importa Fácil Encomendas

[5] Regime de Tributação Simplificada - Isenções

[6] Folhetos da Receita Federal - Remessa Expressa

[7] Folhetos da Receita Federal – Remessas Postais - Importação

[8] Nomenclatura Comum do Mercosul

Comprando no exterior

Ontem um amigo veio falar comigo sobre uma compra que fez no exterior. Ele estava desconsolado porque a Receita Federal o selecionou para pagamento do Imposto de Importação, mesmo a compra sendo inferior à US$50,00.

O problema é que o produto foi enviado por Remessa Expressa. A isenção só é válida para Remessa Postal Internacional Comum, não pode ser Remessa Expressa (ex.: Fedex, DHL, UPS, etc).

Para evitar problemas deste tipo resolvi replicar um texto sobre isenção do II (Imposto de Importação) que escrevi em um outro blog meu, já extinto.

Para ir ao texto, clique aqui.

Senso coletivo

Já tinha ouvido um amigo dizer que os japoneses usam máscaras cirúrgicas quando estão doentes, para não contagiar os outros. Faz alguns dias que esta informação foi reforçada quando li o texto “A Máscara Cirúrgica no Japão” no blog Universo Desconexo.

Neste texto, a autora esclarece que este comportamento visa evitar uma possível epidemia e problemas no sistema de saúde, devido à demanda excessiva.

Bem diferente do comportamento do brasileiro, não é? Esta diferença é cultural e não quer dizer que a cultura japonesa seja melhor ou pior que a cultura brasileira, apenas que são diferentes.

Não é minha intenção forçar uma alteração comportamental do brasileiro mas, dentro do contexto atual (pandemia da gripe A “suína”), seria adequado que as pessoas com sintomas de gripe (mesmo a comum) usassem a máscara. Melhor ainda seria se estas pessoas ficassem em repouso em sua casa, até para seu próprio bem.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Descrição

Já tive vários blogs, sobre diversos temas, e nenhum sobreviveu. Gostava de escrever mas não gostava da restrição de tema e regras de postagem. Mantinha as regras e o tema porque esta era a dica de um tutorial de como criar um bom blog. Bem, "bom blog" deveria significar "agradar o público". Não é este meu objetivo, apenas quero ter o prazer de escrever, sem me preocupar com o que o público quer ler, ou quando. Por isso já peço desculpas mas este blog visa satisfazer uma única pessoa, eu mesmo. Mesmo assim, nada impede que vocês o leiam.

Também não vou me preocupar tanto com a gramática mas se quiserem me corrigir, sintam-se à vontade, pois adoro aprender. Só peço que enviem as correções por e-mail, e não pelos comentários.

Este era para ser o primeiro texto do blog mas resolvi colocar outro texto inaugural. Isto ilustra bem meus conflitos internos, sempre mudando de ideia. Isto explica o nome do blog.

Texto inaugural

Tolerância

Vida metropolitana. Sempre correndo contra o relógio, sempre competindo com alguém. Vida selvagem.
O mais fraco que se cuide, o mais forte vem aí, logo atrás, para levar seu emprego, sua vaga de estacionamento, seu relógio ...
Força não é só força, é inteligência, é oportunismo, é malandragem, é sempre querer levar vantagem, e também é fraqueza.
Fraqueza é achar que a força nos dá vantagem, nos faz vencer... é no mínimo padecer entre tanta bobagem.
Muito ego, pobre cego, aquele que não enxerga as consequências de suas próprias ações.
Ingênuo achar que o indivíduo pode vencer o coletivo ou que a chuva chove sem motivo.
Tolerar, penso nisto como meu caminho, na esperança de um redemoinho, que arraste todo este povo para o mesmo lugar.

Métrica, técnica, domínio da língua ou qualquer outra coisa do gênero... não tenho. Resolvi colocar para fora, do jeito que vinham, palavras e sentimentos que tive ao ler o texto "Tolerância" de Soraya, autora do Blog "Onegaishimasu". Não há muito nexo entre o texto dela e o meu. Apenas lembrei de São Paulo quando li a palavra Tolerância, na verdade, pela falta dela.

Gostaria de contar uma experiência minha. Fui transferido de setor em meu trabalho. Lá havia um vizinho de baia, um senhor, que adorava jogar papo fora. No começo eu me irritava porque ele interrompia meu trabalho. Quando vi que não tinha jeito de me livrar das interrupções dele, resolvi tolerar. Foi como se eu abrisse os olhos. Percebi que cada segundo de conversa com ele eu adquiria horas de experiência e sabedoria, e que jamais o papo era jogado fora. Hoje sou eu quem puxa papo com ele.

Tolerância... seja bem-vinda, fique o quanto quiser e traga seus amigos!